quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Poema de Natal

Continuando com nossa homenagem aos 100 anos de 
Vinícius de Moraes.



          Natal

De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:
- Cristo nasceu!

O boi, no campo perdido
Soltou um longo mugido:
- Aonde? Aonde?

Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:
- Em Belém! Em Belém!

Eis se não quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:
- Foi sim que eu estava lá.

E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar: - É mentira!

Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.

O pombal todo arrulhava:
- Cruz credo! Cruz credo!

Brava
A arara a gritar começa:
- Mentira! Arara. Ora essa!

- Cristo nasceu! canta o galo.
- Aonde? pergunta o boi.
- Num estábulo! o cavalo
Contente rincha onde foi.

Bale o cordeiro também:
- Em Belém! Mé! Em Belém!

E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.
                    (Vinícius de Moraes)





domingo, 1 de dezembro de 2013

A FORMIGA

Continuando com as homenagens a Vinicius de Moraes.

A Formiga

As coisas devem ser bem grandes
Pra formiga pequenina
A rosa, um lindo palácio
E o espinho, uma espada fina.

A gota d'água, um manso lago
O pingo de chuva, um mar
Onde um pauzinho boiando
É um navio a navegar.

O bico de pão, o Corcovado
O grilo, um rinoceronte
Uns grãos de sal derramados,
Ovelhinhas pelo monte.
                      (Vinícius de Moraes)