quinta-feira, 17 de março de 2011

CÍRCULO VICIOSO

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
-"Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
-"Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

-"Mísera! tivesse eu aquele enorme lume, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!"
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

-"Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci um simples vaga-lume?"

                            (Machado de Assis)

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